sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Custa-me escrever isto, mas se não o fizer rebento: estou fodido com o Costa

Não é por não ter uma atitude mais assertiva em relação ao novo governo grego. O PS parece ter entendido o essencial: a vitória do Syriza traduz a falência das políticas de austeridade, e nada pode ficar na mesma na Europa depois dela. Não esperaria de um governo do PS a vergonhosa vassalagem ao governo alemão e boicote ao governo grego que o governo português tem feito. Mas também não esperaria do PS um apoio incondicional ao Syriza: não é essa a sua natureza. (Aqui esclareço que "o que eu espero do PS" não coincide necessariamente sempre com o que eu pessoalmente acho melhor.) Acho natural um apoio prudente.

Também não é pela trapalhada à volta da isenção das taxas municipais ao Benfica. Este é um daqueles problemas que Costa enfrenta por ter optado (a meu ver, bem) por permanecer à frente da Câmara Municipal de Lisboa. É que pode criticar-se a Câmara de Lisboa pelas ofertas ao Benfica, mas então também se critique a Câmara de Gaia pelas ofertas ao Porto, a Câmara de Braga pelas ofertas ao Braga... Em abstrato agrada-me que a isenção ao Benfica não tenha sido aprovada (por diligências de Helena Roseta, o que dá uma estranha imagem de falta de coesão da coligação), mas não me parece que discutir só a política de uma câmara seja a melhor ideia. Discute-se Lisboa por ser a câmara presidida por António Costa.

É sobretudo pelo discurso miserável que foi feito perante uma plateia de chineses em Portugal. Eu não gosto do investimento chinês no que a China representa: uma ditadura para dentro e um agente do capitalismo selvagem para fora. Sobretudo, não gosto de ver esse mesmo investimento servir para controlar empresas que considero estratégicas, e que o Estado deveria controlar, como tem sido o caso. Acredito que a ocasião não fosse a melhor para ter referido isto, mas para isso mais valia não ter referido nada. Sobretudo da forma que o fez.

Está certo que Costa não referiu que o país está melhor, ao contrário do que tem sido propalado (era o que mais faltava). Mas também não referiu que está pior. Ao contrário dos dois casos anteriores, neste a sua posição não pode ser ambígua. Eu esperava de António Costa que, ao referir o estado do país, nunca hesitasse em referir que está pior. Que não tivesse a mínima dúvida a este respeito, e não se coibisse de exprimir esta opinião fosse em que contexto fosse. Um líder do PS só pode dizer que o país está pior com este governo. Automaticamente. De olhos fechados. É isso que esperam dele as muitas vítimas das políticas deste governo, de que este governo tanto se orgulha.

Alega Costa que em nome do "sentido de estado" não poderia estar a criticar o país em frente a uma audiência estrangeira (de investidores potenciais, presume-se). Mas o mesmo sentido de estado não o pode levar a defender uma coisa perante os portugueses e outra perante os estrangeiros. Num tema tão sensível como este, alguém na sua posição não pode ser ambíguo, mesmo que a sua posição não seja popular. Passos Coelho sabe-o muito bem. Costa cometeu o erro amador de ser ambíguo, e ganhou um sério problema de credibilidade.

Tive o cuidado de distinguir acima o que eu espero do PS daquilo que eu defendo. Esta tergiversação de Costa não corresponde minimamente, obviamente, ao que eu defendo. Mas pior: nem sequer corresponde ao que eu espero do PS. Deste PS, pelo menos. É que foi na esperança de ver responder claramente e sem tergiversações à questão "Portugal está melhor?" que António Costa substituiu António José Seguro à frente do PS.

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