quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O «Big Brother» não pode vencer

Quando quiseram passar a legislação Orwelliana sob o pretexto do terrorismo, muitos disseram que era perigoso quebrar os tabus que protegem valores fundamentais (separação de poderes, protecção da privacidade, liberdade de expressão, etc.) mesmo em nome da segurança, porque eventualmente a definição de «terrorismo» poderia estender-se ao crime em geral (tráfico de droga, etc..) e - pior ainda - para a dissidência política em si: o activismo, a actividade política fora das instituições do status quo, o jornalismo que incomode os poderes instituídos, etc... 
Proponentes da luta contra o terrorismo desvalorizavam estes medos. Começaram por criar uma percepção distorcida, exagerada, desproporcionada da ameaça terrorista - existem muito menos actos e mortes causadas por actos terroristas hoje do que durante as décadas da guerra fria, e no mundo ocidental há menos mortos vítimas do terrorismo do que vítimas de relâmpagos; são milhares de vezes menos do que vítimas de acidentes rodoviários, cuja diminuição nunca justificaria estes ataques aos direitos civis. E concluíram alegando que a definição de «terrorista» não se iria generalizar, que esses eram receios paranóicos e injustificados. 

Esse debate está encerrado. Hoje já não faz sentido falar no perigo hipotético de generalizar o conceito de "terrorista" ao crime em geral, isso já é um facto consumado.
Pior: hoje já não faz sentido falar no perigo hipotético de abarcar  no conceito de «terrorismo» o jornalismo e a dissidência política (o maior pesadelo dos defensores dos direitos civis): o asqueroso interrogatório ao parceiro de Glenn Greenwald mostra como o jornalismo que incomode os poderes instituídos - o jornalismo «a sério» - é agora considerado «terrorismo». Peço ao leitor que faça uma pausa de alguns segundos na sua leitura para reflectir sobre isto: o jornalismo de investigação é agora - sem pudor - considerado «terrorismo». 
Isto não é uma distopia ficcional, é facto consumado.

O descaramento na implementação de métodos típicos do pior do totalitarismo é tão grande, que chegamos ao extremo de um proponente esfregar a falta de vergonha na cara dos cidadãos celebrando a vitória do «Big Brother», sem esforço para omitir o termo tão evocativo.

Mas não pode ser assim. O «Big Brother» não pode vencer.
A propósito deste assunto, recomendo a adesão a esta petição contra o uso «indevido» (passo o eufemismo) da legislação anti-terrorista. 

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