domingo, 20 de maio de 2012

Inconsistência vergonhosa

O episódio ocorrido entre Miguel Relvas e Maria José Oliveira («Miguel Relvas ameaçou (...) divulgar detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira») seria motivo para muita indignação, a qual deveria culminar na demissão do ministro. Isto parece-me evidente.

Só que eu não me consigo indignar com a actuação de Miguel Relvas, porque a indignação não é um processo exclusivamente intelectual: joga também com as nossas expectativas. E de Miguel Relvas já espero o pior: esse foi o tiranete que censurou a crónica «Este tempo» na Antena 1... 
Deste Governo, com obrigação de o demitir imediatamente, também não espero muito mais, e a verdade é que minha indignação já atinge o topo da escala - não há forma de aumentar. 

Mas, se este episódio não aumentou a minha indignação com este personagem nem com o Governo, ele denunciou a hipocrisia vergonhosa de todos aqueles que manifestaram o seu apreço à liberdade de expressão quando Sócrates fez muito menos, e agora estão silenciosos. 

As pressões de José Sócrates que tanto incomodaram esta cambada de inconsistentes não correspondiam a nada de ilegal: não existiram alegações de ameaças, explícitas ou implícitas. Nunca me pareceu que o incómodo sentido por tais críticos fosse despropositado ou absurdo, e nenhuma linha escrevi a censurar os seus esforços para dar voz à sua indignação, supostamente motivada por um ataque à liberdade de expressão. 

Mas, evidentemente, não era a defesa da liberdade de expressão aquilo que os motivava. Espanta-me verdadeiramente a falta de pudor com que ignoram ataques inequívocos, de gravidade incomparável. Esta gente não tem valores?

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